A Unidade Prisional de Santa Vitória mudou a rotina de sua população carcerária, no dia 20 de outubro de 2022, por meio de uma ação patrimonial promovida pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, em parceria com a equipe técnica do Presídio. O trabalho, voltado para o tema da Educação Patrimonial e para a Leitura Literária, alinhou questões associadas à salvaguarda de bens tombados, às leituras realizadas por jovens em privação de liberdade, inscritos no projeto Remição pela leitura.
Na ocasião, estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal, Junior Sebastião de Souza (Junim da Lazinha), o Dr. Pedro Guimarães Pereira, juiz de Direito da Comarca de Santa Vitória, a secretária Municipal de Educação e Cultura, Francisca Vânia de Oliveira Silva, o diretor do Presídio Nubis Santana Gonçalves e a presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Maria das Dôres Marques Soares (Dorzinha).
A abertura do evento foi realizada a partir da fala do historiador Cláudio Scarparo Silva na qual destacou a importância de levar a todo cidadão o conhecimento das políticas de preservação do patrimônio cultural, implementadas no município, e associá-las às experiências com outros projetos de cunho cultural, a exemplo da “Remição pela Leitura”, realizado no contexto da Unidade Prisional de Santa Vitória.
A programação do evento seguiu com performances culturais realizadas por um dos membros do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, Hiada Guimarães (voz e violão) e pelos reeducandos Max Muller ( voz e violão) e Lamunier Ribeiro ( flauta doce).
Durante o evento, alguns participantes do projeto Remição pela leitura compartilharam suas experiências com o público presente e destacaram o poder transformador da literatura em suas vidas, durante o período em que estão em privação de liberdade.
Segundo Richard Nascimento, reeducando ativo do projeto, a leitura foi uma oportunidade de conhecer algo que ainda não lhe havia sido apresentado. “Por ironia do destino foi aqui, neste espaço, que pude ter afinidade com a literatura. Hoje, ela é um hábito, uma forma de libertar a minha mente e de conhecer outras culturas, outros povos”, declarou. “Meu corpo está preso, mas a minha mente se liberta com os livros”, destacou.
Para outro reeducando, Winter Silva, a oportunidade de ler umaobra de até 300 páginas foi inédita, já que nunca havia lido um livro completo em sua vida. “Da obra ‘Torto Arado’ de Itamar Vieira Júnior ao ‘Fazedor de amanhecer’ de Manoel de Barros eu me reconstruo a cada dia e, nesse processo, me vejo mais maduro e mais familiarizado com a literatura”, refletiu.
Segundo a Secretária de Educação e Cultura, Francisca Vânia, a literatura é um caminho que vislumbra, sempre, no seu trajeto, a construção do ser humano. “Apoiar projetos dessa natureza é essencial para construção de uma sociedade mais justa”, pontuou.
Dr. Pedro Guimarães Pereira destacou a importância desse trabalho na unidade prisional e seus impactos na vida do reeducando. “Recebo os relatórios com as notas dos participantes sobre o desenvolvimento desses com a leitura. Nesse documento, é evidente a seriedade do professor e dos participantes no processo de construção das habilidades leitoras; e isso credibiliza o projeto”, destacou. “É claro que a leitura é importante para remição, mas, tem como foco, principal, incentivar a manutenção desse hábito para toda a vida”, concluiu.
Para o Diretor Nubes Santana, a realização de eventos dessa natureza é uma forma de refletir convidar o gestor para uma reflexão. “Quando eu presencio tudo isso que está sendo apresentado aqui, eu percebo a importância da desconstrução daquela lógica, pautada na punição, para uma lógica ressocializadora”, enfatizou.